Primeiramente desejo a todos um feliz 2009. Dois mil e nove! Isso é realmente muito tempo. E o mais impressionante disso tudo não é que não estamos andando em carros voadores ou usando trajes prateados (bem, fetiches sexuais não contam), o mais impressionante de tudo isso para mim é que o Faustão ainda continua na TV. Feio, gordo e impertinente...
Mas cá estou eu novamente a escrever notícias. Mais especificamente para escrever como foi meu final de ano, apesar de achar que já esqueci boa parte dos detalhes, visto que já fazem 2 meses. E visto que faz uma cara desde meu último email, tenham paciência para ler pra caralho.
Pelo que me contaram e pelas fotos que eu vi, creio que o fim de ano e o carnaval de vocês foi excelente. Não imaginam a saudade que dá de ver as fotos de vocês na praia, curtindo um solzão. Aliás saudade não é a única coisa que desperta-me ao ver as fotos de vocês, mas também pensamentos obscuros que habitam minha mente. Ultimamente eu tenho encarado as câmeras fotográficas como algo mágico. Elas exercem um fenômeno sobre os seres humanos que vale a pena refletir. Note que há qualquer momento que você apontar uma câmera fotográfica na direção de três ou mais pessoas, algo sinistro começa a acontecer. Instantaneamente o grupo de pessoas na direção das objetivas começa a se espremer dentro de um quadrado imaginário. Inclinando-se , contorcendo-se e abraçando-se, tal qual paredes de concreto estivessem se fechando em direção ao centro da foto. Um cientista suporia a existência de campo gravitacional, pois impressionantemente tão logo que mira-se a máquina fotográfica, pessoas que encontravam-se a metros de distância interrompem seja lá o que estivessem fazendo e tentam também caber no quadrado. O resultado tradicional é um amontoado de gente inclinada em direção ao centro, todos sorrindo sem motivo aparente e é claro, não poderia deixar de mencionar o último imbecil, o mais atrasado de todos, que aparece na foto completamente na horizontal. O último esforço de ser capturado pela máquina que expõe o filme (sic) por preciosos milésimos de segundos. Não importa o quão imbecil se apareça, o importante é caber no quadrado!
Outra coisa curiosa são os gestos. Alguma daquelas pessoas muito importantes para humanidade e que dedicam-se ao estudo de nobres assuntos como etiqueta ou moda, do naipe de Glória Kalil ou Clodovil Hernandez, poderia dedicar-se à escrita de um livro sobre gestos em fotos. Pois eu não faço idéia do gesto correto e isso me atormenta! Mal tenho dormido. O que sei é que às garotas caem muito bem os biquinhos, as linguinhas ou o V de vitória, que para o Ash do pokemon significa „Catch them all!“. Já aos mancebos fica bem fazer um hang loose, variando na direção, na rotação e na inclinação, é claro. Se você é do capeta e escuta heavy metal você pode fazer os chifrinhos, caso contrário você não está autorizado. A galera da academia já pode cruzar os braços e olhar feio. No entanto eu prefiro o bom e velho jóia. Mãos fechadas e polegar pro alto. É alegre, clássico e jovial ao mesmo tempo que não tem idade. Todos podem fazê-lo sem medo de serem classicados. É o gesto dos gestos e não tem contra-indicação, exceto talvez em funerais. No fim das contas você olha suas fotos e pode descrevê-las mais ou menos assim:
Esse sou eu fazendo hang loose em frente às pirâmides. Aqui sou eu mano vida loca em frente ao Coliseu. Já essa sou eu fazendo jóinha no velório do vizinho...
Depois dessas observações inúteis vou contar alguma coisa...
Aviso: o autor não se responsabiliza pela eventual percepção e nega a existência de mensagens subliminares.
DUBLIN
Dia 24 de Dezembro toquei o bonde em direção a Dublin, capital da Irlanda. A razão de ir para lá foi para me meter em novas enrrascadas com meu amigo Andrezinho, digo Dekas (ou como diria sua esposa francesa: Ãndrrrrrê). Sim, para os que não conhecem é o mesmo do último email, aquele cidadão astuto, austero e ex-assexuado. Uma criança resultada de um coito interrompido mal sucedido. Logo após uma bela vista da Irlanda de dentro do aeroplano imergimos sobre uma neblina que cobria a charmosa cidade de Dublin. Neblina esta pouco densa em comparação à neblina que eu encontraria dentro de casa no dias seguintes. Como bom começo das roubadas, que não foram poucas, descubro que não há ninguém me esperando no aeroporto. Tiro do bolso um papel amassado com uma intenção de endereço escrita. Nele não pode-se saber o que o é rua, o que é cep, o que é apartamento e o que é bairro. Mesmo assim com a astúcia de Tin Tin e habilidade do Crocodilo Dundee, consegui me achar naquela selva de pedras e chegar ao flat. O filho da puta ficara dormindo e no momento que eu cheguei estava a vestir uma roupa ridícula que ele disse ser seu uniforme de trabalho. Calças de couro, botinas verdes e pontudas, camisa social, colete, cabelo lambido e bochechas maquiadas (ou naturalmente rosadas, ainda não sei). Após me encontrar, deu um beijo em (como ele costuma chamar) „mon amour“ e foi trabalhar. Eu, mais que cansado que o fígado do Guga, pus-me a dormir. Na casa viviam meu amigo Dekas, a francesa Solene, um outro casal de franceses e dois brasucas sangue-bons, Felipe e Thiago Bozo (o mesmo do último email). Mais tarde no mesmo dia fomos a casa de outros brasileiros comemorar o Natal. Ainda que Jesus não tenha sido citado nenhuma vez, Bob Marley foi mais de 25, ou quase uma onça eu diria. A ceia começou bem com um belo jantar preparado pelo Dekas, mas 20 minutos depois a rapaziada já começava a embriagar-se fortemente. A certo momento da festa chegaram nada menos que 10 mulheres juntas e ficamos lá, em 25 pessoas em uma sala de 10m² num natal que parecia ano novo. O resto dos outros dias me senti como se estivesse no Brasil. Foram porres e farras um atrás do outro. Aliás, este não foi o único motivo de me sentir como no Brasil, porque aquela cidade transpira brasileiros. É algo impressionante. Não sei se eu estava doidão, mas tenho a impressão de ter lido um FORA HAOLE em um dos muros de lá. Entretanto pelo que eu tenho percebido não é só lá que é cheio de brasileiros. Essa praga tá no mundo todo! É como diz o dito popular: Chuta uma moita e sai um brasileiro. Mas eu mudaria um pouco esse ditado dependendo do lugar:
Na Jamaica você fuma uma moita e sai um brasileiro.
Na Faixa de Gaza você chuta uma moita e sai um cadáver de um brasileiro.
Em Amsterdã você tá tão doidão que pensa tá chutando uma moita quando na verdade tá chutando um brasileiro.
No Rio de Janeiro o Guga chuta uma moita e se quebra inteiro. Na verdade ele faz isso em tudo que é lugar...
No Havaí você SURFA uma moita e saem 3 brasileiros. (menção calorosa a 3 amigos que foram ao Havaí surfar de morey bug e tentar perder a virgindade)
No Havaí você chuta uma moita pela segunda vez e aparece o Zé Fiapo desacordado.
No Havaí você chuta uma moita pela terceira vez e sai o seu Vidal dela falando: „Respeite seus limites! Dois chutes na moita estão de bom tamanho!“
Na Inglaterra você chuta uma moita e sai um brasileiro, pela mão errada da moita é claro.
Nos Estados Unidos você chuta o Moita e é preso. (trocadilho com 'bush' a palavra inglesa para moita).
No Suriname você chuta uma moita e nada acontece. Que diabos alguém vai fazer no Suriname?
Não há moitas no Alasca...
O resto do mundo deixo à cargo de vocês.
Ainda antes de finalizar o período em Dublin não poderia deixar de citar a presença do mano Bahia, que na única vez que apareceu, tal como em Amsterdam, trouxe consigo o caos e a desordem. Uma viagem ao mundo das poltronas e ao submundo do chão. Mas não tentem entender, nem eu consigo.
LONDRES
Dia 31 partimos para Londres. Eu, no entanto, fui em um vôo separado. Achei que não seria um problema já que nos dias de hoje temos celular. Mas eu estava errado, ao chegar lá, tento novamente ligar para esse merda do Dekas, mas mais uma vez ele ficou dormindo e achou que dois metros era muito esforço para pegar o telefone. Então baseado em informações vagas tive que me virar na megalópole inglesa. Finalmente após uma cara o Felipe me ligou e tudo foi só maravilha. Cheguei então à casa da Gisela e da Paula, duas brasileiras muito gente-boas que apesar de conhecer apenas o Felipe acolheram 5 pessoas em sua casa haha. Por algum motivo logo que cheguei, perto das 19 horas, começamos a beber. E não pararíamos mais até o ano seguinte. Fizemos um esquenta maquinado biritas de gente grande e cervejas que não dão caganeira. Depois preparamos uma provisão para a jornada com vodkas, cervejas, refrigerantes e metade da tabela periódica. Finalmente partimos para a night da virada. A night era a chamada de SQUAT, uma rave ilegal que acontece de tempos em tempos em Londres, em que os organizadores invadem um local, preparam todo o ambiente e avisam as pessoas por SMS do local apenas 2 horas antes da festa. Uma festa como essa não poderia ser ruim, e não foi. Após inúmeros metrôs e um trajeto de bicicleta chegamos ao local da festa. Um galpão todo estilizado e com um equipamento de som animal. Disseram ter 5 ambientes, porém eu percebi apenas 2, o banheiro e fora dele. Era difícil saber em qual acontecia mais bizarrices, era cada um mais alucinado que o outro. Logo na entrada, nosso amigo Felipe ao ser revistado travou o seguinte diálogo com o segurança:
Pode procurar aí cara, não tenho droga não.
Droga? Droga é bom. Droga tem que usar. Eu to procurando é faca.
Ah bom. Happy new year man!
Happy new year!
Uma das maiores atrações da festa era o balão que vendia no bar. Um elemento a mais na festa infantil. Pagava-se duas libras e ganhava-se um cinlindro de metal. Aí era só ir no bar e os caras botavam o cilindro numa máquina e um balão em um tipo de bico de chaleira e então o gás dentro do cilindro enchia o balão. Por algum motivo as pessoas aspiravam o gás contido no balão e caiam às gargalhadas. Tentaram me explicar que era igual ao lança perfume. Aquele mesmo que vossos pais usavam nos carnavais e que quando pressionados alegam:
Ah! mas no nosso tempo era uma brincadeira, a gente fazia porque tinha um cheiro gostosinho.
Sim! E a hoje as pessoas usam cocaína porque dá uma coceirinha divertida. Pouca coisa mudou.
Foi um dia também marcado por diálogos esquisitos com 50% das mulheres e tentativa de poesias mal feitas (nossa anfitriã que o diga) . Houve uma hora que fui falar com uma bem bonitinha. Falei em inglês e ela respondeu que não falava em inglês. Sem pestanejar falei:
E português fala?
Batata!
Aiiiii, português sim! Hihi.
Tinha que ser né, brasileiro é foda. sempre as mais bonitinhas não falam inglês.
Mas a festa foi irada. Volta e meia abraçava o Dekas e falava:
Cara, essa é a melhor festa da minha vida!
Mas isso era só desculpa. Eu fazia isso pra segurar ele, caso contrário ele ia sair voando que nem aquele padre. Para resumir a festa: lá estava eu, com a cerveja na mão, me sentindo um universitário, curtindo o doce momento e mandando bala.
No último dia que passamos em Londres resolvemos fazer algum turismo. Tivemos que ver tudo rapidão porque aquela cidade é gigantesca e é impossível de ver tudo em um dia. A certa hora eu, Felipe e Thiago nos separamos do Dekas e da Solene que haviam ido para casa afogar o ganso para a sopa do jantar. Combinamos de nos encontrar no aeroporto, porém nós 3 na ânsia de ver tudo que era possível, acabamos no alongando demais e no fim das contas perdemos o vôo. Dekas e Solene conseguiram pegar o vôo. Era o começo de uma longa jornada. Numa puta indignação resolvemos voltar para casa onde estávamos e comprar a passagem para o dia seguinte e apenas para a noite. Pelo menos poderíamos conhecer mais a cidade. Terrível engano. O site da Ryanair (para quem não conhece é uma empresa das mais nobres) não vendia passagem no dia. Já me acordaram falando:
Cara, corre! Temos 20 minutos para chegar na estação, para pegar um trem, para pegar um barco pra ir pra Dublin! E só tem esse barco!
Ahn?! Trem, barco? E o avião? Deixa eu dormir caralho.
O avião tá duzentas libras hoje e se você pegar o de amanhã você perde o vôo pra Alemanha.
Ao ouvir as palavras duzentas libras eu já estava na porta apressando todo mundo.
Vamo porra, seus lerdos do caralho!
Era muito foda chegar até essa estação nos 15 minutos que ainda tínhamos. Saímos da casa e pegamos o primeiro táxi que vimos. Falamos pro motorista ir o mais rápido que pudesse. O taxista até que tentou ajudar indo o trajeto todo na contra-mão, mas a velocidade não passou dos 40 km/h. Ao chegar na estação descobrimos que todos os trens estavam atrasados devido algum acidente e que na verdade tinha mais de um barco. Com sorte chegaríamos a tempo de pegar o barco das 17 horas.
PAÍS DOS GALOS
Após viajar umas 5 horas de trem pelo interior da Inglaterra chegamos à cidade de Holyhead, onde deveríamos pegar o barco para Dublin. Saímos do trem pra variar na correria, pois tínhamos 5 minutos pra pegar o barco das 17. Ao chegar uma bela surpresa, o barco das 17 tinha sido cancelado. Outro barco, só às 2:30 da manhã! Putos mais uma vez, resolvemos dar uma banda pela cidade. Em pleno sábado tudo fechou às 17:30. Perguntamos para uns locais se tinha algum lugar com internet e eles responderam:
A essa hora? Tá tudo fechado!
Que caraaaalho de cidade era aquela. Em meia hora andando por lá acho que vimos a cidade inteira. Felizmente ainda tinha um supermercado aberto. Compramos suprimentos para ficar bêbados até às 2:30 e assim o fizemos na estação. Certa hora andando pela cidade eu viro para Thiago e comento sobre uma placa:
Mermão!
Qualé?
Que porra de língua é essa? Isso não é inglês não!
Pode cre. Também não é gaélico. Não é alemão?
Cara, acho que tamo em País de Gales!
E foi então que nos demos contas que estávamos em Páis de Gales. Depois de tanta espera pelo barco e tanta correria veio a recompensa. Não era um barco, era um puta navio! Tipo aqueles transatlânticos da vida, com bar, restaurante e tudo mais. Ficamos de rei, tomamos mais umas geladas e capotamos. Ao chegar em Dublin novamente correria. Nos acordam falando que já estávamos na Irlanda. Olho pro relógio e percebo que tenho pouco tempo pra chegar ao aeroporto de Dublin e voltar pra Alemanha. No fim das contas cheguei a tempo e levei mais umas 8 horas de viagem até chegar aqui.
ALEMANHA
Depois de 2 dias inteiros viajando, e tendo dormido umas 10 horas em 4 dias chego em casa. Alemanha num frio do caralho e a paisagem branca de neve (neve mesmo, não a personagem). Nesses dias chegou a dar -21°C de madrugada. Frio do caralho, mas mesmo assim não me rendi ao cachecol. Aliás o cachecol é o artefato mais gay já criado e usado por um ser humano. Três tipos de pessoas usam cachecois: mulheres, velhos e viados. Enfim, voltei então à rotina até meu amigo Roberto aparecer por aqui. O Roberto (ou Robby) é um cara que estuda comigo e atualmente é um sem-teto pela Europa. Sua diversão é circular de casa em casa, destruindo-as durante a estadia, enquanto finge que procura um emprego. Para introduzi-los esse personagem, colo aqui o depoimento que escrevi para ele e que ele recusou. Fato que não entendi e deixou-me magoado:
O Roberto é um daqueles caras que tem diversos apelidos. Parceiro pra todas e nunca dispensa um bom entorpecente.
Na galera da cocaína é só ele chegar que o pessoal canta: Betoooo Carreiraaa 'tupish'! (barulho de chicote).
Na galera da agulha ele é conhecido como 'Betinho, o Hemofílico' devido à falta de habilidade com as veias.
Pelos amigos da cachaça é conhecido como Betinho Coca-Light.
Já na musculação é o Robomba. Aqui na Alemanha ele era Betrunken. No asfalto é o Robreque.
Na construção, pelos companheiros de trabalho, é chamado de Beto Betoneira.
Todavia o único apelido que ele aceita é na cama, onde ele prefere que o chamem simplesmente de Betty.
Enquanto ele esteve aqui fomos ao carnaval de Colônia, que é dito ser o maior da Europa. Para não me alongar descrevê-lo-ei em outro email, mas adianto que foi um dia cheio de acontecimentos envolvendo álcool, mulheres e brigas. Isso me lembra de uma outra confusão que quase acabou em briga. Por algum motivo umas 5 pessoas discutiam, quando um conhecido meu, envolvido na discussão, para dar uma assustada resolve quebrar uma garrafa no chão. Eis que um cidadão larga a pérola:
Ah não. Isso é demais. Eu vou chamar meu advogado!
Banga sou eu...
Por hora é suficiente. Colocarei esse texto também no meu cantinho virtual (porque falar meu blog é gay pra caralho) e comentários são bem-vindos.
Abraços,
Mano Brow